01/04/2009

Crónicas de Maconde IV

- São quatro minis se faz favor.
- ... Fresquinhas!
- Obrigado. Sr. Martins, então e a juventude? Maconde é uma terra com muitos jovens?
- Há alguns, há alguns. Sabe que isto é uma terra de artistas! Principalmente músicos. Bem, principalmente artistas, mas alguns são músicos. Alguns até já foram tocar a festivais e tudo.
- Epá mas isso é excelente; por acaso nós quatro somos todos profundos apreciadores de música, cada um à sua maneira. Então mas existem cá muitas bandas?
- Umas quantas. Faz-se cá qualquer coisa, tanto que algumas pessoas, por brincadeira, até chamam a isto Madconde.
- Madconde? Como em "Madchester"? Epá mas então isso é formidável! Quer dizer que vocês têm cá uma cena musical fervilhante, com bandas capazes de influenciar toda uma geração, e criar uma sonoridade inovadora com um impacto internacional duradouro, dando centenas de concertos e vendendo milhões de álbuns em todo o mundo?
- Ouça lá, você já bebeu de mais não já?
- Não, não, esqueça, estava a sonhar.

Entretanto, continuava sem saber as horas. Resolvi tentar outra vez, e virei-me para o homem ao meu lado:
- Desculpe, o senhor pode dizer-me que horas são?
- Julgo que sim, deixe-me verificar... olhe, julgo que não tenho o relógio comigo. Eventualmente deixei-o em casa, ou então no carro. Em casa ou no carro. Mas deixe-me confirmar, talvez esteja num dos bolsos do casaco.

Bem, talvez fosse agora que ia conseguir saber as horas. Resolvi meter conversa com ele.

- Obrigado, agradeço. Já agora, o senhor chama-se...?
- Pedro Manuel Martinho, prazer em conhecê-lo. Pedro Manuel. Pedro. Manuel. Pedro ou Manuel.
- Então como é que prefere, Pedro ou Manuel?
- Pode ser.
- Hmmmm ok. Então e o senhor é de cá de Maconde?
- Julgo poder dizer que sou.
- Nós estamos só de visita. O que é que o senhor acha de Maconde? Gosta de viver cá?
- Jugo que é relativo. Nem sim nem não, antes pelo contrário. E vice-versa. Lastimo, mas tenho mesmo a suspeita que perdi o relógio. Julgo que não o deixei em casa mas duvido que o tenha deixado no carro.
- Então mas tem mesmo a certeza que o perdeu? Já viu os bolsos todos?
- Julgo que sim. Em princípio talvez. Tudo depende. Julgo eu.

Tendo dito isto, o homem afastou-se de nós para perto do velho televisor a um canto da taberna. Virei-me de novo para o balcão e para o Sr. Martins.
- Isto definitivamente não está a correr bem... Sr. Martins, aquele homem é assim um bocadinho a dar para o indeciso, não é?
- Quem, o Sr. Dr. Juiz Martinho?
- O QUEM?!?
- Martinho. Então mas ele disse-lhe o nome, certo?
- Juiz... ele é juiz...
- Oh, isto não foi nada. Havia de o ter visto no dia em que se casou, quando o padre lhe perguntou se aceitava... É um caso insólito. Mas ele é bom rapaz, nunca faz juízos de valor a ninguém.
- OK.... olhe, são quatro minis se faz favor.

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