28/03/2009

Crónicas de Maconde III

- São quatro minis se faz favor.
- Estão a sair.
- Obrigado.
- Então mas e os senhores ainda não viram nada em Maconde?
- Para ser sincero, não. Assim que chegámos dirigimo-nos ao seu estabelecimento, e aqui estamos.
- Estou a ver. Então mas pelo menos deviam ir conhecer o Mosteiro.
- Vocês têm um Mosteiro?
- Sim, sim, um dos Mosteiros mais importantes de Portugal. Até teve direito a uma Requalificação há pouco tempo. Uma obra grande.
- Mas isso é muito bom. Então e gostaram da Requalificação do Mosteiro?
- Bem... a Requalificação do Mosteiro... enfim, teve coisas boas... agora as lojas Vazias estão numa área muito mais bonita. Nunca o comércio em Maconde foi tão Pouco comércio e tão tradicional.
- Então mas... as pessoas Competentes Não modernizaram o comércio?
- O que é que quer dizer com modernizar o comércio?
- Nada, Nada, esqueça, estava a Sonhar.

Entretanto, continuava sem saber as horas. Resolvi tentar outra vez, e virei-me para o homem ao meu lado:
- Desculpe, o senhor pode dizer-me que horas são?
- Está a falar comigo outra vez?
- Sim, estou a falar consigo.
- Pois olhe, por muito que gostasse, não posso. E além disso já me perguntou as horas há bocado.
- Há bocado? Não, só agora.
- A sério? Estranho, era capaz de jurar que já me tinha perguntado.
- Não, de facto não... então mas podia dizer-me as horas?
- Dizer-lhe as horas... que estranho... curioso, acabei de ter a sensação de já ter não visto isto antes.
Tendo dito isto, o homem afastou-se de nós para perto do velho televisor a um canto da taberna, em passos muito curtos, com os braços levantados à altura da cintura. Virei-me de novo para o balcão e para o Sr. Martins.
- Bem, se calhar também o incomodei, mas eu sinceramente só lhe perguntei as horas.
- Ah o Quim? Não se preocupe, você não fez nada de mal. O Quim é mesmo assim.
- Mesmo assim como?
- É um caso insólito. O Quim é cego.
- Ah, ele é invisual.
- Não, ele não tem dinheiro para ser invisual, é só cego. Cegou há uns anos atrás, num acidente de mota.
- Epá, não me apercebi que ele era cego.
- Tudo bem. O problema é que ele também é terrivelmente dado a déjà vus; está sempre a confundir-se, e a confundir os outros. Só de me lembrar que ele era da brigada de trânsito... chegava a multar as pessoas três e quatro vezes pelo mesmo.... tanto que algumas pessoas, por brincadeira, quando eram mandadas parar por ele, diziam: "Pronto, já estou Quimlhado". Mas ele é bom rapaz, nunca vê mal em nada.
- OK.... olhe, são quatro minis se faz favor.

25/03/2009

Crónicas de Maconde II

- São quatro minis se faz favor.
- ...E cá estão elas!
- Obrigado. Então Sr. Martins, o que é que nos pode contar sobre Maconde?
- Epá assim de repente... Bom, Maconde é uma aldeia simpática entre a serra e o mar. Para aldeia, é bastante grande, tanto que algumas pessoas, por brincadeira, costumam dizer que Maconde é uma cidade. É passearem e verem, temos cá coisas bonitas; o passeio, por exemplo.
- O passeio?
- Sim sim. É um dos orgulhos de Maconde; o nosso presidente da Câmara, Gonçalo Girino, mandou fazer um passeio pedonal mesmo ao lado do nosso rio fluvial. Facilita o acesso ao parque de estacionamento rodoviário. Logo há-de levar um elevador para subir para cima, mas ainda não o instalaram lá ali.
- Ah... estou a ver...

Casualmente, virei-me para o homem ao meu lado:
- Desculpe, o senhor pode dizer-me que horas são?
- P-p-p-p-p-pois con-conc-conc-conc-c-c-c-c-c-concerte-te-te-te-te-te-te-te-teza. Ssssssssss-ssssssssssssssssss-sssssssssss-são-ão-ão-ão-ão-ão são-o-o-o-o-o-o ahhhh hmmmmmmm .... .... .... fff-fffff-ffffffffffffffffffff... ónix!
Tendo dito isto, o homem afastou-se de nós para perto do velho televisor a um canto da taberna, aparentemente irritado e confuso. Virei-me de novo para o balcão e para o Sr. Martins.
- Epá, eu espero não ter incomodado aquele homem. Pelos vistos é gago e enervou-se.
- Ah o Tonico? Não se preocupe, ele está bem, daqui a dois minutos já não se lembra.
- Não sei se não lembra, que ele pareceu ter ficado chateado.
- Não, não, não se preocupe. O Tonico é assim mesmo.
- Assim mesmo como?
- É um caso insólito. O Tonico é gago, muito gago.
- Pois...
- O problema é que ele também é amnésico. É raro conseguir acabar uma frase, porque esquece-se sempre do que ia a dizer. Mas ele é bom rapaz, nunca se lembraria de fazer mal a ninguém.
- OK.... olhe, são quatro minis se faz favor.

18/03/2009

Crónicas de Maconde I

Na sequência do diálogo mantido com o nosso amigo Aureliano, a equipa Mundo Nu e Cru decidiu ir conhecer a localidade de Maconde. O plano era simples: ir para um café de Maconde beber minis.

Após chegar, dirigimo-nos rapidamente para a melhor e única tasca existente, propriedade do Sr. Martins, homem aí de uns 45 anos, que nos deu a conhecer os aspectos mais interessantes da localidade. Após servir-nos quatro minis, ele próprio encetou conversa:

- Ora aqui estão as minis. Os senhores não são de cá, pois não?
- Não não, somos de fora. Viemos de propósito para conhecer a terra.
- Ah bom. Então e precisam de ajuda?
- Olhe por acaso gostávamos de lhe perguntar algumas coisas, se for possível.
- Se eu puder ajudar...
- Então diga-me uma coisa: quando chegámos, reparámos numa quantidade enorme de viúvas um pouco por todo o lado...
- Ah sim. São muitas não são? A maioria é de fora, mudaram-se para aqui após os seus maridos terem falecido. Não param de chegar, sempre vestidas de preto, tanto que algumas pessoas, por brincadeira, costumam dizer que Maconde é a capital mundial das velhinhas góticas.
- Mas por alguma razão em especial? Há cá muito emprego?
- Não, nem por isso. É um caso insólito. É por causa do Dr. Dias.
- Do Dr. Dias?
- Sim, do Dr. Rudolfo Dias. Um homem riquíssimo, o mais rico nesta zona.
- Ah ok, muito bem.... mas o que é que ele tem de particular? É assim tão bom em medicina geral?
- Ah não, ele não exerce medicina geral, ele é ginecologista.
- Tudo bem, mas ele é assim tão bom?
- Não, por acaso até dizem que é péssimo como médico, mas sofre de uma forma particularmente agressiva de Parkinson. Algumas viúvas chegam a marcar duas consultas por dia.... o homem está rico.
- OK.... olhe, são quatro minis se faz favor.

03/03/2009

Breve Dicionário Enciclopédico "La Petite Pipe"

Chamada para Tóquio: serviço de roaming da Hoptymush especialmente orientado para o mercado asiático. Pode ser utilizado entre dois números associados entre si, num contacto ocasional ou em alternativa a pagar no destinatário (onde se verifica uma grande diversidade de preços, dependendo do modelo).

Foi popularizado através do slogan "Fale à glande! Fale até à galganta! Falal assim é Hoptymush!"



Cinto de ligas: massa de tecido conjuntivo (cujas células armazenam energia sob forma de gordura) localizada imediatamente acima da cintura dos homens portugueses.

O desenvolvimento do cinto de ligas relaciona-se com os padrões de consumo de cerveja ao assistir a jogos de futebol da 1ª Liga, Liga Inglesa, Liga Espanhola e suas congéneres. Constitui um elemento de reforço dos lacinhos sociais, dado que uma grande parte dos homens preza mostrar o seu cinto de ligas aos amigos, havendo até disputas sobre quem o tem maior. É usual os homens admirarem e comentarem os cintos de ligas dos amigos, dado ser um fenómeno plenamente aceite pela matriz social actual.

É de interesse observar que as mulheres recorrentemente tendem a preferir modelos mais pequenos, de forma a que o cinto de ligas seja menos visível sob as roupas do seu companheiro.

Serve também de elemento de afirmação, dada uma larga franja da população masculina considerar que homem que é homem usa cinto de ligas.



Perder os três: Apostasia (em grego antigo απόστασις [apóstasis], "estar longe de")

s. f.,
abjuração;
defecção;
deserção da fé;

Diz-se que "perdeu os três" aquele que renunciou e se afastou de forma definitiva da Igreja Cristã, rejeitando todas as suas tradições e ensinamentos, perdendo assim O Pai, O Filho e O Espírito Santo. Amén.

Origem de "tirar os três", expressão que descreve o acto amiúde de alguns padres de visão progressista, que visam dessa forma atrair jovens cordeiros para o rebanho de Deus, prática bem conhecida nos anais da Igreja Cristã.



Skoda Fabia: antigo texto sobre a sexualidade masculina, oriundo do Iémen do Sul, estudado e trazido à luz pelo académico H. Ramos.

O Skoda Fabia pretende representar o ciclo da sexualidade masculina, desde a puberdade até à vida madura, sistematizando os diferentes momentos da mesma e sistematizado pelos seus três anagramas:

- Fada Skobia: é o momento da descoberta da sexualidade por parte do púbere, que assim se desinteressa da Fada Madrinha e se dedica apaixonadamente a temáticas mais palpáveis;

- Biko Safada: Período de exaltação da sexualidade, caracterizado pela descoberta de novas práticas levadas a cabo de forma descomprometida e ocasional. Considerada por muitos como a etapa sexual mais estimulante e diversificada. É também nesta altura que o homem decide abdicar da Fada Skobia para sempre.

- Foda Basika: Altura da maturidade sexual, em que o homem se uniu a uma mulher de forma definiva. Traduz uma substituição substancial da excitação pelo afecto, relegando para segundo plano os aspectos mais instintivos da sexualidade. Tende a ser caracterizada por um grande sentimento de nostalgia, em que o homem relembra com profunda saudade o período Biko Safada e redescobre as alegrias da Fada Skobia.

02/03/2009

Anedota Técnica.

A obra licenciada já levava telha na cobertura, quando após denuncia e fiscalização a câmara decide embargar a obra.

Rápidamente tento averiguar o porquê de tal embargo.
Apercebi-me que a imagem publicitária para a venda dos apartamento, no exterior da obra, tinha suscitado comichão no proprietário do edificio contiguo, que denunciou a ilegalidade.

Na imagem, os beirados estavam coincidentes, na obra estes tinham um desfazamento de 30 centimetros.

Após levantamentos métricos verificou-se que a obra decorria tal como aprovada e o levantamento de cércea do edificio em questão não estava correcta.

Assim fui advertido pelos técnicos camarários por prestar falsos testemunhos e poder incorrer a processo judicial e coimas, ao qual justifiquei que o proprietário do dito edificio não me permitiu entrada no mesmo para efectuar as devidas medidas.

Conclusão:

Tive que fazer projecto de alterações do levantamento dos edificios contiguos ao projecto, para se proceder ao desembargo.